castelosabugalProjeto Especial Verão - 4º Dia

  • Hoje, o dia está mais fresco, e já pela manhã cedo havia movimento no hotel. É o nosso primeiro pequeno-almoço neste hotel  e isso deixa-nos apreensivos. É necessário repor as energias porque que vamos necessitar para a caminhada que vamos fazer: aldeia da Malcata ao sabugal. Confesso que o facto de estar na reserva natural da serra da Malcata, me deixa um leve nervosismo. Para mim a partida era mais uma reserva a juntar a outras que já visitei. Mas, esta era especial e eu sabia disso. O motivo era o lince-ibérico (lynx pardinus).
  •  A reserva foi criada em 1981 para servir de santuário para o felino mais ameaçado do mundo. A esperança de o ver era grande. Hoje, sei que muito dificilmente o ia encontrar. Já esquivo no seu ambiente natural, pior ainda fora dele. A realidade das coisas é que o nosso trilho não percorreu a reserva integral, mas sim as zonas limítrofes. Mas tudo era possível.
  • Cerca de 52 km de distância levou-nos aproximadamente 1 hora, mas valeram bem a pena. A pequena aldeia da Malcata é uma freguesia do concelho do Sabugal. É esta aldeia que dá nome a Reserva Natural da Serra da Malcata. Como zona raiana, é natural que o contrabando esteja no seu sangue, e desse modo justifique o Quartel da Guarda Fiscal.
    O nosso trilho partiu da entrada da aldeia.
    A Barragem de Nossa Senhora da Graça, ou geralmente chamada de Barragem do Sabugal, inaugurada no ano de 2000. O Rio Côa esta na origem do espelho de água que se estende até ao limites da aldeia. Este mesmo rio marca os limites da Reserva Natural da Serra da Malcata. É este mesmo rio que é protagonista nas gravuras rupestres do Rio Coa e desagua no rio Douro.
    O nosso trilho dirigia-se para o lado oposto a reserva. Acompanhando a margem da barragem. Para trás ficava uma área de cerca de 22 000 hectares de área protegida.
  • Percorremos os limites da barragem do sabugal. Umas vezes junto a água outras mais afastadas, mas sempre com o espírito naturalista. O calor que se fazia sentir, mais ameno em relação ao primeiro dia, deixava-nos ofegantes e sequiosos. Este enorme espelho de água, está ligada com a barragem de Meimoa, também ela fazendo parte dos limites da Reserva da Malcata. A ligação entre estas duas barragens faz-se por um túnel com 4 150 m de comprimento e que atravessa a serra da Malcata e sai em conduta forçada para a central hidroelétrica. Este aproveitamento, destina-se ao abastecimento de água, rega e produção de energia.
  • O rei de leão Afonso IX funda um novo concelho desanexando uma extensa área do termo de Ciudad Rodrigo e escolhe para sua sede a povoação do Sabugal e esta começa a afirmar-se na região.
  • A formação da nacionalidade por D. Afonso Henriques, durante o seu reinado, o território foi consideravelmente alargado até ao rio Tejo, tendo o vale superior do rio Côa sido abrangido pelo seu esforço militar.
    Ainda não havia as fronteiras como hoje as conhecemos. As intenções do monarca português, era alargar o território. A melhor forma de garantir esse propósito é conceder terras a Ordem do Templo. O Concelho do Sabugal fica uma zona tampão nas terras de fronteira com Leão.
    Assinaram o Tratado da Alcanizes em 1297 a coroa portuguesa fica com a posse legítima e perpétua de todas as terras de Riba-Côa, sendo criado um novo limite fronteiriço que, praticamente, se manterá até aos nossos dias.
    Toda esta região sofre novamente investidas, só que desta vez não são militares: a reforma administrativa de Mouzinho da Silveira. Foram extintos vários concelhos que até então faziam fronteira com o do sabugal e incorporados neste. Hoje restam os monumentos representativos da sua primitiva municipalidade.
  • O gorgolhar da água embalava-nos nesta marcha lenta e silenciosa. Os raios de luzes bailavam por entre a folha altiva, umas vezes mostrava-se outros tímidos escondiam-se por detrás dos verdes ramos que pendiam das árvores sobranceiras ao rio.
    Percorremos os trilhos que ladeiam o rio. Serpenteamos por um sem número de obstáculos e acompanhados pela frescura do espaço chegamos os Jardins da Ponte de Açude com agradáveis vistas sobre o castelo e o rio Côa. Altivo e imponente na encosta o Castelo lança a sua sombra sobre as aguas do Côa como se as quisesse abraçar. Verga-se a seus pés os jardins que lhe roga a sua proteção e recolhe-se à sombra do seu esbelto e forte castelo medieval, frequentemente chamado de Castelo das Cinco Quinas devido à invulgar forma da sua torre de menagem pentagonal.
  • Para nós este cenário era um alívio devido ao facto de que marcava o fim do nosso percurso. Já tínhamos percorrido os encantos da Malcata sob um sol quente, e deliciamo-nos com a fresca sombra do Côa. Agora era altura de descansarmos um pouco e alimentar o corpo.
  • A visita ao castelo do sabugal era uma das que estavam agendadas no programa, e isso obrigava ao comprimento dos horários. Neste aspeto tudo correu sempre bem e não houve atrasos de maior. Participantes muito cumpridores. Ainda havia tempo de sobra em relação a hora marcada e desse modo podemos desfrutar um pouco do parque e tomar um café nas instalações adjacentes.
  • Dali partimos para o Castelo. Um grupo animado que lançava no ar risos e alegria. Noutros tempos idos, tal algazarra deixava em alerta máximo o castelão.
  • Subimos ao moro onde esta situado o castelo numa zona mais elevada. Contornamos uma parte do castelo que apresenta uma configuração trapezoidal e em frente a uma praça ampla encontramos uma porta que dava acesso ao interior do castelo. Passamos a Barbacã (pequena muralha colocada antes da muralha principal) e já dentro desta cintura amuralhada, temos diante de nós uma torre. Torre de Menagem do Castelo do Sabugal. Apresenta-se diante de nós com uma forma pouco usual: pentagonal. O reinado de D. Dinis corresponde, entre nós, à plena afirmação do Castelo Gótico, concebido à luz de um conceito de defesa ativa
  • Entramos no espaço central do castelo. Subimos a adarve e por ali passeamos. A muralha granítica possui largo adarve, ao qual se acede por quatro escadarias internas. Aqui em cima aproveitamos para ver a paisagem e tirar fotos de planos diferentes.
  • O castelo apresenta dupla cintura de muralhas, em aparelho misto de cantaria de granito e de alvenaria de xisto, sendo a barbacã pentagonal irregular. A cerca de granito que envolvia a vila do Sabugal era praticamente oval, embora atualmente se encontre muito reduzida, conservando-se como ponto mais importante desta primeira defesa a Porta da Vila, localizada nas proximidades da Torre do Relógio.
  • Depois de circulamos pelo perímetro da muralha e subimos às torres, sobretudo à de menagem, para contemplar a vista. Nesta última, a ascensão faz-se através de uma escada em pedra, que nos troços superiores intermédios passa a madeira. Existem diversos patamares dando acesso aos quatro balcões com mata-cães (buracos no pavimento que permitiam a defesa vertical da torre). O último andar tem teto de granito trabalhado, seguindo-se o acesso final ao terraço. O final que dá acesso ao terraço é feito de pedra. Eu posso comprovar isso com o galo que me fez na cabeça ao subir.
    Daqui de cima se pode ter uma ideia da topografia da região, avistando-se uma parte do curso do rio Côa, bem como o labirinto de curiosas casas de xisto que rodeiam o cabeço onde foi implantado o castelo.
  • Saímos do castelo e defronte ao castelo, tendo com companhia o pelourinho tiramos uma foto de grupo para recordar mais tarde. Já agora o pelourinho do Sabugal foi destruído em finais do século XIX. Há poucos anos, foi efetuada uma réplica, que se encontra neste largo.
    Como todos os locais mágicos ou místicos há sempre uma história ou lenda. Desta vez é uma das mais conhecidas que se diz ter acontecido neste castelo.
    Diz a lenda que foi no largo deste castelo que se deu o famoso milagre das rosas tendo como protagonistas a Rainha Santa Isabel e o rei D. Dinis.
  • Depois de alguns minutos de viagem, dista 14 km do Sabugal, chegamos aos arredores de Sortelha, uma das aldeias históricas. O autocarro não podendo avançar mais, encostou. Apeamo-nos e depressa nos lançamos a descoberta da aldeia.
    Sortelha é uma das mais belas e antigas vilas portuguesas, tendo mantido a sua fisionomia urbana e arquitetónica inalterada até aos nossos dias, sendo considerada uma das mais bem conservadas.
  • Sortelha situa-se num esporão granítico dominante, entre o cabeço de São Cornélio e a Serra da Opa, a uma altitude máxima de 786 m. A sua privilegiada localização resulta de uma escolha estratégica no intuito de dominar todo o espaço envolvente e, deste modo, vigiar e prevenir as invasões inimigas.
  • Nesse dia quando visitamos a burgo, havia no ar mistério. Percorremos as suas ruas, e fomos tentar desvendar esses segredos.
    Chegamos a porta da vila e entramos no burgo. Diante de nós um largo, Largo do Corro, dá-nos as boas vindas a Sortelha posto de informação muito bem colocado dá-nos todas as informações de que precisamos. Mapas ou qualquer esclarecimento. Alguns metros mais a frente têm a Casa dos Falcões, Casa Um e Casa Setecentista. Em Sortelha existem vários edifícios que, quer pela sua função, beleza ou antiguidade, merecem uma especial atenção. Depois do posto de turismo fica a Casa dos Falcões.
  • Continuamos rua acima em direção ao largo do pelourinho. O mesmo empedrado do chão e o mesmo tipo de pedra nas construções, parecem todas iguais. Ao longo da rua algumas casas têm características que conotam alguma diferença. Estas casas estão denominadas de Casas Quinhentistas. São habitações com características muito próprias dos finais do século XVI.
    Chegamos ao largo do pelourinho o centro do poder no concelho medieval e até inícios de de outubro de 1885 altura que Sortelha foi destituída de sede de concelho.
    Aqui há muita história para contar, além da história local, há a história do ANDAR. Começo pelo início da nossa aventura na cova da beira. No primeiro dia do nosso projeto especial, foi distribuído um guia das Aldeias Históricas de Portugal, um por casal ou um quando individual. Foi uma pequena grande oferta que o ANDAR proporcionou aos participantes. É precisamente a capa deste guia que apresenta uma foto do pelourinho de Sortelha com o castelo como pano de fundo. A primeira coisa que fizemos foi tirar uma foto do conjunto dos participantes, aqui junto ao pelourinho. Ao fim de algumas tentativas lá se tirou uma foto.
    Agora passo a história local. Começo pelo pelourinho. É em 1510 que D. Manuel I, que lhe confirmou foral e o mandou construiu
    Bem no meio da praça, estava imóvel tendo a sua volta como guardas inertes o castelo, Antiga Casa da Câmara e Cadeia e a casa das almas.
    Começando pela casa da câmara. Fica encostada as muralhas, defronte ao pelourinho, e na sua fachada tem a pedra de armas de D. Manuel I, idêntica a que esta no castelo
    Ao longo dos séculos a estrutura defensiva da povoação sofreu reparações. As muralhas foram construídas tendo por base a técnica de construção que consistia no levantamento de duas paredes fortes e paralelas, que eram seguidamente cheias com pedra grossa e gravilha.
  • A cidadela fica fora do perímetro amuralhado, a sul deste.
    Deixamos para trás esta zona que deve ter imensas histórias para contar, e partimos ao encontro de outras estoiras. Subimos agora para a parte alta do burgo. Passamos a a Igreja Matriz. Dedicada a Nossa Senhora das Neves, fica localizada no Largo da Igreja, dentro do perímetro amuralhado. Inclui, para além da igreja, a torre sineira, um passo da via-sacra e algumas sepulturas escavadas na rocha.
    Chegados ao cimo da rua temos a porta nova. Aqui há gravado na entrada da porta as medidas padrão da "vara" ou "côvado". Estas antigas medidas medievais, foram aí mandadas colocar pelo rei. Tinham como função servir de marcas de aferição para as feiras que aqui se realizavam. Da Porta Nova temos acesso ao exterior do burgo.
    Viramos a esquerda em direção porta falsa e temos a companhia da muralha. Ao nosso lado direito temos a casa do juiz. Passamos a casa e quase em frente temos a porta falsa e a torre do facho. Há aqui uma curiosidade, um velho sofá que se encontrava do lado de fora da muralha foi palco de uma serie de fotos. Muito a apropriado para quem tem um dia agitado e cansativo. Há ainda uma curiosa formação granítica, Cabeça da Velha, moldada pelos caprichos da natureza, alguns metros a leste da Porta Falsa.
  • Como era um dia quente e tínhamos necessidade de molhar as gargantas optamos por fazer uma visita a um bar perto dali. O Campanário nas costas da Casa do Juiz. As minúsculas casas de granito que se espalham por uma calçada irregular, oferecem por isso uma visão única.
    O espaço era agradável e descobrimos uma outra imagem de Sortelha. Numa mistura de descontração e de uma mini depressa criamos um ambiente saudável a nossa volta e por breves momentos parece que o grupo se foi juntando, bom, uma grande parte dos participantes entrou no jogo da descontração e da foto do livro. Esta manifestação de alegria perdurou por algum tempo, até que o nosso estava quase a esgotar-se. O nome do campanário tem a sua origem no campanário que tinha no pátio. Aos sinos de bronze acedia-se por meio de uma escadaria de pedra esse mesmo campanário era a torre sineira da igreja matriz que estava no sopé desse Campanário. Depois de sairmos do deste local ainda passamos por a Casa Árabe.
  • Depois daqui descemos até a igreja matriz e dali ao pelourinho onde tiramos uma foto com o livro na mão.
  • A última batalha que Sortelha travou, do mesmo modo que as restantes aldeias da raia foram às invasões dos franceses.
    Mas houve uma batalha que Sortelha ganhou com mérito próprio e que faz dela aquilo que é hoje: 1994 faz parte o programa de recuperação das aldeias históricas de Portugal. É por este motivo que fomos visitar e conhecer esta aldeia.
  • O dia ainda está no seu auge e ainda temos uma aldeia para visitar: Belmonte. Confesso que era para mim uma daquelas aldeias envoltas em mistério. O judaísmo era para mim a ligação mais forte que encontrava nesta vila.
  • Partimos em direção a Belmonte, que se distanciava pouco mais de 19 km.
    O autocarro parou no parque de estacionamento a entrada da Vila de Belmonte.
  • Vila Histórica, Belmonte é um verdadeiro museu a céu aberto. É um Concelho quase tão antigo como a Nacionalidade e tem uma particularidade muito especial, que a liga ao mundo, Pedro Alvares Cabral, que deu novos mundos ao mundo, nasceu aqui. Além de fazer parte das Aldeias de Portugal é possuidora de um castelo com uma magnífica janela Manuelina. Mas, a sua história não acaba aqui. Belmonte tem uma ligação muito forte com a comunidade Judaica. Estes motivos e outros são suficientes para embrenharmos nas suas ruas e desvendar o passado, compreender o presente para salvaguardar o futuro.
  • Como tudo na vida, começa no princípio, o momento em que a história se conta com fragmentos de um passado distante, ou vestígios da sua presença. Para compreendermos Belmonte no contexto do mundo, não podemos separara as descobertas de novos mundos sem o ligarmos as comunidades judaicas em Portugal.
  • O cristianismo, na Idade Média, não nutria simpatia pelos judeus, que eram constantemente perseguidos, deportadas, presos, os seus bens confiscados pela Igreja e pelo Estado, já no século XIII, D. Afonso II legisla (Ordenações Afonsinas) as relações entre cristãos e judeus pois estas começavam a criar dificuldades à minoria.
    Os anos passam e uma das famílias que começa a destacar-se é a Cabral. A importância para a região deve ter sido tanta que em 1397, D. João I concedeu a administração do castelo de Belmonte a família Cabral, a Luís Alvares Cabral. Com o passar dos anos, a bravura e a lealdade da família dos Cabrais, foi sempre lendária e temida, sobretudo a do seu primeiro Alcaide-mor - Fernão Cabral, que uma vez nomeado a título definitivo e hereditário, em 1466 por D. Afonso V, transformará o castelo numa Residência Senhorial Fortificada, onde seu filho Pedro Álvares Cabral viverá os seus primeiros anos de vida.
  • Começa um novo êxodo dos judeus. No ano de 1095, tinham liberdade religiosa e influenciaram o desenvolvimento cultural e científico., começaram a ser perseguidos pelos cristãos, porque a Igreja Católica julgou os judeus como responsáveis pela morte de Jesus Cristo. A partir desse fato, a civilização judaica sofreu constantes ataques nas cidades europeias; enclausurando-se nos guetos, milhares de judeus foram vítimas da Santa Inquisição (Tribunal da Igreja Católica que julgava os hereges).
  • Quatro anos depois do acontecido em Espanha, o sucessor de D. João II, D. Manuel, casado com uma filha dos reis católicos e muito pressionado por estes, promulga também o édito de expulsão. Longe de ser consensual, esta política não agradou a todos, principalmente nos meios da ciência e da escrita. O D. Manuel também não agradaria ver partir grande parte da dinâmica do reino. Por isso, congemina a estratégia da conversão e batismo forçado.
  • Os anos vão passando e dá-se a epopeia dos descobrimentos. Para sempre Belmonte fica ligado ao mundo.
    Depois disso as grandes mudanças foram só com as reformas administrativas. É extinto o concelho de Belmonte e integrado na do Covilhã. Apenas três anos passaram e o antigo concelho é restaurado.
  • No ano de 2003, Belmonte passa a integrar a Rede das Aldeias Históricas de Portugal, e no ano de 2014 o grupo do ANDAR visita esta povoação.
    Agora voltamos ao nosso ponto de partida: o estacionamento. Seguimos estrada acima até a nossa primeira paragem: a igreja matriz. Uma pequena visita a igreja, que é também conhecida como Igreja Nova ou Igreja da Sagrada família, é um templo de construção relativamente recente, apresentando vários estilos revivalistas.
    Depois de deixarmos a igreja embrenhamo-nos na rua que nos levavam ao castelo.
    Diante do castelo olhamos apáticos para o monumento. Estava fechado por ser segunda-feira. O castelo é formado pela Torre de Menagem, vestígios da antiga alcaidaria (Paço dos Cabrais).
    Diante do monumento como pano de fundo tiramos uma foto de grupo. Ainda tive a oportunidade de fotografar uma cruz que estava junto ao castelo. Frente à janela manuelina do castelo encontra-se implantada no mono granítico uma réplica, em Pau-santo do Brasil, oferecida nos anos 50 pelo presidente brasileiro Kubichek de Oliveira, da cruz que Pedro Álvares Cabral deixou na Terra de Vera Cruz. Interessante este pequeno símbolo, mas com um significado enorme.
  • Partimos dali em direção ao Bairro judeu, ou melhor a Judiaria, não muito longe dali. Fora das muralhas do castelo, no chamado Bairro de Marrocos, era ai que os judeus viviam e praticavam a sua religião secretamente. A comunidade judaica está aí estabelecida desde a Idade Média, e a Judiaria estendia-se então entre as atuais ruas da Fonte da Rosa e Direita. Em 1297 terá sido inaugurada a primeira sinagoga da vila, que posteriormente foi adaptada ao culto cristão. Apesar das perseguições de que eram alvo, estes Filhos de Israel mantiveram os costumes básicos do Judaísmo até ao presente, subsistindo numa comunidade fechada, onde as tradições eram passadas oralmente de pais para filhos. O isolamento levou a que esta comunidade perdesse o uso comum do hebraico e muitos dos ritos religiosos, mas permitiu que a base religiosa do judaísmo fosse mantida.
  • Com tudo isto a fé judaica passa a clandestinidade. Com o édito de expulsão de D. Manuel, manteve-se em Belmonte um grupo de cripto judeus que subsiste até à atualidade. É, talvez, a terra portuguesa onde a presença dos judeus é mais forte, destacando-se por ter sido um caso singular, no território peninsular, de permanência da cultura e da tradição hebraicas desde o início do século XVI até aos dias de hoje. Hoje podemos ver os símbolos das profissões dos membros da comunidade. Um desses símbolos é a tesoura que identifica o alfaiate, gravada nas ombreiras das portas das casas habitadas pelos judeus. Somente em 1989 os sefarditas belmontenses regressaram de forma efetiva ao Judaísmo, fundando oficialmente a Comunidade Judaica de Belmonte. Hoje vivem em Belmonte entre 130 a 140 judeus, descendentes de famílias judaicas que por aqui ficaram depois de terem sido expulsos de Portugal e Espanha em finais do século XV.
    Com a liberdade religiosa é edificada sobre um promontório num extremo da vila que abre para o vale, e projetada pelo Arquiteto Neves Dias, a Sinagoga BET Eliahu (Filho de Elias) precisamente numa das ruas da antiga judiaria.
    Oficialmente é criada a comunidade judaica de Belmonte, cuja sinagoga foi inaugurada em 1997 e em 2001 foi aberto o cemitério judaico, atualmente é uma das poucas comunidades com Rabi.
    Ficamos um pouco na judiaria e dali partimos a procura do Pelourinho e antigos paços do concelho, centro político de Belmonte de antigamente. Alcançamos a Praça Velha onde se situa o Pelourinho e ainda o edifício dos antigos Paços do Concelho, com o seu relógio e armas picadas. O Pelourinho, restaurado nos anos 80, tinha sido destruído no século XIX. O edifício da antiga Câmara, com a torre do relógio e onde se localiza o Posto de Turismo, o pelourinho quatrocentista e, em redor, um notável conjunto de casas onde pode comprar o artesanato local e da Serra da Estrela.
    Por aqui ficamos alguns minutos, tempo suficiente para fazer uma visita ao fio de azeite. Um bar onde podemos saborear umas bebidas frescas. Ainda houve um tempo para visitar um escultor de imagens em madeira, e que imagens. Gostei muito. Foi pena tudo estar fechado e isso impediu as visitas mais importantes.
    Em boa hora partimos dali e fomos a procura do Museu Judaico (único em Portugal) que retrata a história da presença sefardita em Portugal, usos, costumes e que integra um memorial sobre as últimas da inquisição. Aberto ao publico desde 2005, e onde funciona também um Centro de Estudos Judaicos.
  • Não muito longe dali fica a estátua de Pedro Álvares Cabral situada no Largo António José de Almeida, ali colocada aquando dos Quinhentos anos após a descoberta do Brasil.  
    O navegador português, a quem é atribuída a descoberta do Brasil, nasceu em Belmonte, em 1467 ou 1468, filho do alcaide-mor daquela localidade. Solar dos Condes de Belmonte ou Solar dos Cabrais sec XVIII.
    Atualmente alberga o Museu à Descoberta do Novo Mundo estando nele instalado o centro de Documentação Temático dos Descobrimentos. Conta a história da viagem de Pedro Álvares Cabral, descobridor do Brasil, nascido em Belmonte. Tratasse de um projeto interativo, de sensações e de afetos que nos leva numa viagem de 500 anos de história da construção de um pais e da sua portugalidade.
    Já muito próximo do local do autocarro, temos o Ecomuseu do Zêzere. é uma terra agrícola e de boa paisagem com o magnífico vale do Rio Zêzere, com o seu leito largo e arenoso, rodeado de amieiros, campos verdes e frondosos pomares de macieiras e pessegueiros, por isso há o ecomuseu do rio Zêzere ou o museu do Azeite.
    O Museu do Azeite, é o aproveitamento de um lagar que foi construído no século XIX e inícios do século XX. Ainda se pode provar a tiborna (pão quente molhado em azeite, polvilhado com açúcar amarelo).
  • Deixei para o fim, o património religioso esse bastante rico nestas paragens.
    Começando em redor do Castelo temos, nas imediações, a Capela do Calvário data do século XIX. Perto desta última, localiza-se a Capela de Santo António, do século XVI, mandada construir por D. Isabel Gouveia, mãe de Pedro Álvares Cabral.
    Finalmente deixo para o fim o mais importante monumento religioso cristão de Belmonte, na minha opinião. Igreja de Santiago e o Panteão dos Cabrais. A Igreja de Santiago é um belíssimo monumento românico-gótico, talvez tenha sido mandada construir em 1240 por D. Maria Gil Cabral.
    O Panteão dos Cabrais. O templo apresenta um portal seiscentista, onde se identifica quem mandou construir e remodelar esta capela. Ao centro, a arca tumular que guarda as cinzas de Pedro Álvares Cabral, retiradas do seu túmulo na Igreja da Graça, em Santarém.
    Ligeiramente afastada do conjunto e só foi construída em 1860 a torre sineira. Há ainda a salientar na igreja de Santiago a capela de Nossa Senhora da Piedade, na qual está uma Pietá do séc. XIV.
    a também a lembrar a passagem do poeta, compositor e cantor Zeca Afonso. Viveu aqui alguns anos em 1939, após ter regressado de Moçambique, com uma avó e um tio e foi ele que me incutiu o gosto pela música.

  • Deixamos para trás toda esta manifestação de cultura e partimos no autocarro em direção a Covilhã.
    O dia tinha sido comprido e cansativo e um pouco de relax era tudo o que se pedia naquele momento. Primeiro uma piscina, depois um banho turco e estávamos prontos para o Jantar.
    Como é habitual nestas nossas andanças, a seguir ao jantar bem a descontração e um saltinho a noite da Covilhã. Assim juntou-se um grupinho e fomos beber uma sangria e por a conversa em dia. Não foi longa a nossa noite, até porque o dia seguinte era o nosso último dia e já íamos para casa.
    Depois do bar fomos sonhar com novas aventuras.
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